13 fevereiro 2025

COMPANHEIRASDE VIAGEM

Eu conheci Chimamanda Adichi há pouco mais de 10 anos quando ainda integrava o Coletivo Quizumba, companhia paulistana infantojuvenil que pesquisa as teatralidades para as infâncias e adolescências.

Chimamanda participou de TED Talk em 2009 com uma pequena palestra intitulada “O perigo de uma história única”. O vpideo que viralizou  transformou completamente minha trajetória como artista da cena e pesquisador de teatro.

No vídeo acima ela fala sobre os perigos e danos de, grosso modo, “julgar um livro pela capa” ou quando ouvimos/ contamos uma história de alguém, ou de um fato histórico ou de um país desconsiderando as muitas camadas, complexidades e contradições inerentes a experiência humana.

Em 2019 a Estação Primeira de Mangueira venceu o carnaval com o samba enredo “A história que a história não conta” e trouxe para a avenida Sapucaí um chamado a olharmos para o “avesso do mesmo lugar”, entoando “versos que o livro apagou” e declarando que na História do Brasil “houve mais invasão ou descobrimento”.

Como artista criador e futuro arte educador esses são princípios que me parecem fundamentais e  inegociáveis para a constituição de um projeto pedagógico com potencial emancipatório em relação àquilo que é dado como natural, com “sempre foi assim”, ou “é assim porque é”.

Duvidar de tudo o que é natural.




12 fevereiro 2025

O MUNDO NÃO É DE HJE....

QQuando Galeano nasceu, a filosofia bakongo já dizia que todo muntu é um sol vivo.

Quando Galeano nasceu, a responsabilidade da comunidade em acender o sol de seus membros para seu livre caminhar na vida já era uma realidade entre os kindezi.

Quando Galeano nasceu, ter fé na vida não era apenas uma força de expressão, mas uma estratégia de guerra na resistência ao epistemicídio negro.

Quando Galeano nasceu, o matriarcado, o aquilombamento, a ancestralidade, a ludicidade, a corporeidade já eram valores de permanência, continuidade e resistência que povos bantos, vindos do Congo e Angola, se valiam para manterem acesos os seus sóis.

Quando Galeano nasceu, a humanidade já era um valor inegociável.

O mundo não é de hoje. Nosso olhar míope é que é incapaz de olhar para além do que determinou a Europa como marco zero de determinadas ideias. Nem Galeano escapou. É uma distrofia ocular congênita e hereditária. 

Mas vale sempre lembrar: o mundo não é de hoje.

O BRASIL NÃO CONHECE O BRASIL

Ás vezes uma aula é marcante pelo impacto positivo que ela é capaz de deixar. Outras vezes não. Mesmo assim, uma aula

ruim também pode ensinar coisas importantes, como por exemplo motivar o aluno a pesquisar um assunto visto em sala de aula de modo insuficiente ou ainda  instigar uma investigação que amplie ou que se contraponha ao estudado na escola.

Ouvir uma professora dentro de uma instituição de ensino de artes justificar que o ponto de partida para o estudo sobre História da Educação no Brasil seria os jesuítas, porque “não existe registro sobre Educação antes do descobrimento do Brasil”, me deixou tão consternado e indignado que, em uma rápida pesquisa na internet mesmo, me inspirei para a criação da nuvem de palavras (acima) e  alguns documentários sobre como se aprende e como se ensina entre os povos originários (abaixo).

Esse tipo de afirmação é tão absurdamente vergonhosa e tão cheia de camadas: uma professora |

dentro de uma instituição de ensino de artes | num curso de Licenciatura em Teatro me fez pensar quão profundas são as raízes dos processos de colonização que constituem esse país, quão precária é a formação acadêmica e humana dos professores de artes e que (pers)existe uma preguiça intelectual contra tudo aquilo que não é branco e euro referenciado.

 

Esse registro é um desabafo e é também um lembrete para o futuro: para que eu me lembre de não esquecer.

 

_____

A Última Floresta" (2021, de Luiz Bolognesi)

Retrata a vida do povo Yanomami, destacando sua relação com a oralidade e os conhecimentos passados entre gerações.

 

 "Índio Cidadão?" (2022, de Rodrigo Siqueira

Mostra como os povos indígenas conciliam seus saberes ancestrais com o ensino formal.


 "Piripkura" (2017, de Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge)

Acompanha os últimos membros de um grupo indígena isolado, revelando sua relação com o conhecimento tradicional.

 

 . "Terra Vermelha" (2008, de Marco Bechis)

Mostra a luta dos Guarani-Kaiowá e sua resistência cultural, incluindo aspectos da transmissão do conhecimento.

 

"Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos" (2018, de João Salaviza e Renée Nader Messora

 Retrata a relação dos indígenas com seus ritos e ensinamentos espirituais.